terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Psicóticos Diletantes

Não.

Chega da ditadura hipócrita dos dicionários.

Estamos aqui como idiotas que brincam de ser gênios que brincam de
ser idiotas. Basta de lacinhos & sorrisos falsos & da mania de querer
fazer/ser algo pretensamente útil. Não há ambição: já somos o que um
dia quisemos ser — e já é demais.

Estamos aqui como um pelotão de fuzilamento que não tem munição e
como o condenado que prefere não ver seu último desejo atendido.
Somos pela nossa verdade contra a sua, pela ilusão sintética contra a
realidade artificial, pela ociosidade criativa contra o esforço estéril, pela
incerteza contra a segurança, pela doença venérea contra o ataque
cardíaco, pela bobagem contra a coerência, contra a ganância pela
mendicância, e assim por diante, porque isto já está cansando.

Estamos aqui porque somos feios. Não admitimos controle. Danem-se
os vizinhos, gostamos de escutar música bem alta, de madrugada,
sapateando na janela. Dane-se Freud, queremos garotinhas
impúberes em camas forradas com linho, sangue e ferrugem. Dane-se
Lombroso, não queremos ninguém analisando nossos crânios cheios
de imperfeições. Danem-se Deus e o Diabo, queremos sodomizar
anjos assexuados enquanto Dante nos mostra o terceiro círculo. Dane-
se a tradição, a família e a propriedade: queremos a ruptura, a tribo e o
comunal. Dane-se quem nos sorri, queremos fazer caretas. Danem-se
os carros, estamos indo a pé.

Estamos aqui porque não poderíamos estar em algum outro lugar, por
mais que queiramos. Queremos sexo & poesia & álcool & anarquia &
literatura & drogas & música & caos & teatro & morte & olhos & magia
& acasos & vinho & Arte, seja lá o que isso queira dizer. Não queremos
casamento & discursos & trabalho & autoridade & hierarquia & esporte
& convenções & rotina & religião & sisos & planos & salário & gravata
& respeito & Amélia que era mulher de verdade.

Estamos aqui porque temos pernas que terminam em pés de unhas
compridas. A caridade pode ser mesquinha, o assassinato pode ser
uma obra de arte. A virgindade pode ser uma maldição, o estupro
pode ser providencial. A magreza pode ser doença, a gordura pode ser
virtude. A saúde mental pode ser um par de algemas, a loucura pode
ser a redenção. O superego pode ser padrasto cruel, o id pode ser
amante voluptuosa. O politicamente correto pode ser imoral, o
estupidamente sincero pode ser amável. Encham de sangue nossa
taça de abominações, ou o faremos sozinhos.

Estamos aqui para encher o saco, e ponto final.

Nenhum comentário: