terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Cena 10

Hanschen Rilow de pijama e com uma vela na mão. Tranca a porta e abre a tampa da privada.

Você não tem cara de quem está rezando, meu amor, mas eu te amo desde aquele dia que eu te vi na vitrine. Você ainda continua linda, com a mesma curva suave do seu corpo, com os mesmos seios de menina, durinhos... Você promete que vem me visitar nos meus sonhos? Eu vou te receber de braços abertos e eu vou te beijar... Eu vou te beijar até você ficar sufocada... Você vai penetrar em mim como uma rainha penetra em seu castelo vazio... Meu coração dispara, sinto um nó na garganta só de pensar nas minhas noites solitárias. Você me esgota, me mata com seu corpo imóvel. Se eu tivesse que contar todas as mulheres que eu amei... Sete. Ao todo foram sete. Você não está morrendo por teus pecados, não... Você vai morrer pelos meus. Em legítima defesa contra mim mesmo e com o coração sangrando... Eu cometo o sétimo assassinato. Não há qualquer coisa de trágico no papel de Barba Azul? Todas as mulheres que ele assassinou não sofreram tanto quanto ele. Cada vez que ele estrangulava uma delas, devia sofrer tanto... Meu amor, porque você aperta tanto os joelhos? Porque você não abre as pernas? Vou te dar a última chance: é só você se mexer um pouquinho e nós podemos começar tudo de novo. Faz qualquer coisa, pelo menos um sinal de desejo, meu amor. Se você me responder eu te ponho num quadro de moldura de ouro e penduro em cima da minha cama. Você ainda não percebeu que a sua castidade é a causa da minha fraqueza? O último beijo na sua carne... Nos seios de menina... Na curva doce dos seus joelhos... Ah! Joelhos cruéis. É por isso que eu te mato, meu amor. É por isso... Adeus... (a gravura cai na privada. ele fecha a tampa)


Frank Wedekind – 1864 – 1916

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Larissa não mora mais aqui

As grandes cidades para agregar uma quantidade maior de pessoas em lugares privilegiados acabaram criando os grandes edifícios. Lugares centrais e de grande fluxo tiveram sobre sua área grandes construções com o que havia de mais moderno e avançado. Porém o tempo foi gradativamente corroendo as estruturas e os edifícios foram decaindo. A conseqüência foi a criação de um cinturão de pobreza em volta. Este fenômeno determinou o afastamento de moradores dos centros urbanos e a ocupação de uma população pobre em torno. Os edifícios de luxo destes lugares entraram em franca decadência. Tornaram-se monumentos ao passado e sofreram uma drástica mudança em seus condomínio. Antigos proprietários, profissionais liberais, empresários, representantes das classes dominantes e aristocratas deram lugar a estudantes, trabalhadores assalariados, biscateiros vivendo de pequenos bicos, atores, escritores e e aventureiros vindos do interior ocupam o então luxuoso prédio agora com alugueis aviltados. A voracidade do mercado por sua vez passa a mudar a fotografia da cidade de forma constante. Prédios antigos ora transformados em pardieiros e em “balança, mas não cai” sucumbe à especulação imobiliária e dão lugar a modernos empreendimentos, escritórios executivos, salas inteligentes, informatizados e auto-sustentáveis, ecologicamente correto, usando material reciclado e de alto nível prontos a servir a um cliente cada vez mais rico e mais exigente. A destruição de patrimônio arquitetônico não dá conta das milhares de vidas que ali passaram, construíram, tiveram filhos, se separaram, amaram e morreram.

LARISSA NÃO MORA MAIS AQUI é uma história destas. O Edifício Comendador Siqueira foi criado nos anos 50 como ultimo grito na construção civil. Apoiado na euforia de um Brasil campeão do mundo foi investido de todas a regalias que o ufanismo utópico podia oferecer. Elevadores com pantográficas. Recepção com amplos arcos e grandes corredores, quartos imensos e pé direito alto marcaram o uso exorbitante dos espaços. Os primeiros moradores viveram o apogeu do prédio, mas e criou em torno pequenas favelas para albergar a mão de obra necessária para manter o luxo. Aos poucos a decadência toma conta e o mar de favelas cresce em torno do Edifício Comendador Siqueira. Os alugueis caem e os novos inquilinos tentam manter a dignidade de suas vidas nos dias de hoje. Até que novas propostas do mercado imobiliário de compra do edifício e subseqüente demolição para criação de um ultra moderno super centro de negócio totalmente auto-sustentável e ecologicamente correto é projetado. A história dos últimos moradores do edifício combina com um retrato social da nossa sociedade, ilhada, oprimida, falida, moralmente indecisa e assustada.

A trama começa com a proposta de demolição ao qual os moradores tentam resistir. Entendem que aquele lugar representa uma cidade que eles sonharam e não aceitam de modo algum o oferta de compra pelo pullde investidores.

A partir de então vemos os o dia-a-dia dos moradores e toda a gama de pessoas que vivem no edifício.

http://larissanaomoramaisaqui.blogspot.com/

http://julioconte.blogspot.com/



quarta-feira, 30 de setembro de 2009

QUE SAUDADE DA PANGEIA

Etíope morrendo de fome,

Angolano sendo assassinado,

O mundo acabou

Sem ter terminado.

Matando por Deus,

E por petróleo fazendo a guerra.

Tirem fotos de lembrança!

Está extinta a Terra.

Solto está quem faz o mau

E entre os presos há homens de bem.

Já tem fila na fila de espera

Pra entrar de vez para o além.

Preços e mortes a subir,

Corrupção e raiva a subir.

Tem mais é que derreter a geleira

E a nós, idiotas, engolir.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

VELHOS ORIGAMIS

Um jovem sonhador sentado em frente à tv assistindo um talk show qualquer. 
Em meio a discussões de profissionais tentando provar que sua área devia ser seguida, 
aparece um homem fazendo origamis para distrair a platéia em quanto os palestrantes tomavam água. O Menino desliga a TV e vai dormir.

Dez anos depois, agora com dezessete anos, o menino vai ate uma fabrica a busca de emprego. 
Por mais que transformar papelão em caixa nunca tenha sido seu sonho, ele aceitou.

Com o tempo as caixas começaram a ganhar formas diferentes, suas mãos começaram a desenhar todas as formas conhecidas com o papelão.
Promoções vieram de tempos em tempos levando o promissor rapaz a escritórios cada vez maiores. Ele sempre foi muito feliz por ter seu
trabalho reconhecido pelo mundo e por cada vez mais criar coisas diferentes. O prazer de estar sempre aprendendo dobraduras novas para fazer
em suas caixas o estimulava dia após dia.

Anos após o empresário do rapaz ficou sabendo de seu sonho, fez algumas ligações e conseguiu um encontro com o senhor dos origamis, 
afinal a arte do velho tinha sido sua inspiração durante toda vida. 
Levantou cedo e colocou seu melhor terno, tomou um café rápido e pegou o carro para ir ao local do encontro. Chegou 30 minutos antes do combinado, 
ficou pensando possíveis comprimentos para seu ídolo "Bom dia senhor, sou seu fã desde pequeno”, “Nem acredito que estou aqui”.Ou simplesmente "Oi".

Depois de alguns minutos a secretaria o chama. Ele entra com um enorme sorriso na sala de seu herói de infância, observando prêmios por toda parede, 
então vê um velho com os cotovelos, apoiados sobre a mesa sustentando o rosto com as mãos. Ao seu lado, um livro intitulado "todos os origamis do mundo".

O jovem se aproximou lentamente, retirou de sua pasta uma caneta e um papel.

Sua primeira frase foi: "Pode fazer uma caricatura minha?".

UMA VIDA A DOIS

Levantou-se sorrateiramente da cama, como fazia toda noite, esgueirou-se pelo quarto em direção ao banheiro. O ronco dele acobertava sua fuga. Sentia-se culpada, que mulher não se sentiria culpada por enganar o namorado? Mais do que isso, que ser humano estaria livre da vergonha frente à tão vil atitude, que de tão vil deixa abismado mesmo seu narrador.

A culpa não a detinha, nem o medo, tudo era parte de uma mágica e excitante experiência. Entrou no banheiro escuro, trancou a porta, ligou a fluorescente de cima do espelho; o perfume que sentia roubava-lhe o chão e virava gosto em sua boca ávida. E o desejo virou pressa. Abriu o armário com violência e rapidamente tinha em mãos - e da mão para a boca - seu tesouro.

E assim ela fez, noite após noite de prazer multicolorido, fresh, floral, amêndoas, própolis, e o preferido palmolive cor-de-rosa; todas as noites até a do dia 23 de abril, quando sucedeu tão extraordinária coincidência que fará quem quer que leia por em dúvida a veracidade de minha história.

Naquela noite fria o namorado, gripado que estava, acordou com o próprio ronco, as duas e trinta e seis da manhã levantou sonolento e com sede, dirigiu-se ao banheiro. Tinha este hábito - que a mulher detestava com todas as forças - de tomar água da pia - sempre que o fazia a mulher o via como um cachorro bebendo de uma poça.

Como se ainda quase dormisse, entrou sem perceber a luz acesa, muito menos a mulher sentada na privada com a boca lambuzada de sabonete e as embalagens violadas aos seus pés. A mulher estava em choque, por mais que já houvesse, em pânico, imaginado como seria a reação do marido ao seu secreto "apetite", nunca havia considerado tal acontecimento efetivamente possível.

Estava em pânico, tinha na mão um protex fresh meio mordido e antecipava a calamidade iminente. Foi nesse momento que o namorado deu por sua imóvel presença. Ele, atônito, estudava a cena como a uma fotografia, e quando a voz de seu espanto aprontava uma exclamação, ela disse, com voz e vontade cujas origens não percebia: "- quer?", estendendo-lhe na da mão esquerda a insólita iguaria.

Não sei se pelo susto, pelo sono, ou pela infinita capacidade que o namoro tem de absorver e normalizar internamente os absurdos, por maiores que sejam, o namorado tomou e provou o sabonete.

Não gostou. A mulher, boca e mãos ensaboadas, pensou: "mais me sobra".

http://emsimesmado.wordpress.com/2009/04/08/do-casamento/

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

MORTE

A morte sempre foi um assunto desconhecido de todos. Até porque ninguém morreu e voltou pra nos contar como é...

Então, o que será que acontece depois que morremos?

Quando as pessoas morrem não morrem, apenas mudam de país. Sim, de país...

Assim que um brasileiro morre aqui e reaparece na china, morre um japonês na China e reaparece no Brasil, por isso que quando nascemos não falamos a língua natal. O coreano que morreu no Japão renasce brasileiro, ele sabe de tudo, mas como só fala tailandês em português fica meio “gugu dada” o que nos faz ter sempre a sensação de que os bebes são mongolões...

Mas o processo não deve ser tão simples. A esperteza de Deus é provavelmente, maior que isso. Ele fica embaralhando as pessoas pelo mundo sempre com cuidado pra não coincidir pessoas que morrem num país renascerem no mesmo, portanto, Deus não inventou a matemática, assim como não inventou a análise combinatória sendo assim, acontecem: “não te conheço de algum lugar?” “tenho impressão que já te vi antes.”.


Então os mendigos, aqueles que vemos nas ruas, não os sem teto, os mendigos clássicos sujos, barbão, roupa rasgada são almas penadas.

São as pessoas que se deram conta que a vida é uma viagem...

Portanto temos duas opções após a morte...

Voltar como bebes mongoloes, conformados com o destino da alma ou voltar como um mendigo, revoltado com os joguinhos do destino...

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

CRÍTICA À (VELHA) INTERNET

Leis, plágio, Sarney, incentivos fiscais à cultura...

Eis que surge a Internet e todos imaginam que, finalmente, a cultura seria dissipada sem os blábláblás das formas até então comuns de veiculação de informações. Bullshit!. Em outras palavras, o já falecido político Pedro Américo Leal dizia que o importante era que suas idéias fossem levadas avante, e não o seu nome.

Citações e clipagens surgiram como a solução ao problema do que se pode dizer por “narcisismo editorial”. Another bullshit! Fui incriminando ao citar outro blog, sim. Fui crivado de críticas por simplesmente deixar que outras pessoas comentassem e divagassem sobre textos de um post. Não pensei, porém, que tal autora defecasse sobre os pensamentos do velho Pedro Américo.

Ainda, na vã tentativa, de tentar reparar o erro me deparei com uma arrogância digital. Um sensacionalismo Leãolobista que omitia a nova Simone Beuvoir de apresentar ou sequer responder civilizadamente meu contato com esta a fim de esclarecer os fatos. Queres que eu credite-a em meu blog? Plagiador! Queres que eu apague o post? Plagiador! Plagiador, plagiador, plagiador...

Ensurgiram sobre a minha pessoa milhares de ofensas quando, erroneamente, ok, busquei compartilhar pensamentos e divagações de outra pessoa para tentar sem sucesso, agora vejo, levar aos mais distantes rincões do mundo um pouco mais de cultura, e, definitivamente, não, um pouco mais do mesmo: autores e mais autores.

Tirei instantaneamente meu blog do ar.

Eis a internet, o novo jeito de transportar cultura. Bullshit!

Eis a internet, um velho jornal conservador embutido em um monitor que não vale de nada...