terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Cena 10

Hanschen Rilow de pijama e com uma vela na mão. Tranca a porta e abre a tampa da privada.

Você não tem cara de quem está rezando, meu amor, mas eu te amo desde aquele dia que eu te vi na vitrine. Você ainda continua linda, com a mesma curva suave do seu corpo, com os mesmos seios de menina, durinhos... Você promete que vem me visitar nos meus sonhos? Eu vou te receber de braços abertos e eu vou te beijar... Eu vou te beijar até você ficar sufocada... Você vai penetrar em mim como uma rainha penetra em seu castelo vazio... Meu coração dispara, sinto um nó na garganta só de pensar nas minhas noites solitárias. Você me esgota, me mata com seu corpo imóvel. Se eu tivesse que contar todas as mulheres que eu amei... Sete. Ao todo foram sete. Você não está morrendo por teus pecados, não... Você vai morrer pelos meus. Em legítima defesa contra mim mesmo e com o coração sangrando... Eu cometo o sétimo assassinato. Não há qualquer coisa de trágico no papel de Barba Azul? Todas as mulheres que ele assassinou não sofreram tanto quanto ele. Cada vez que ele estrangulava uma delas, devia sofrer tanto... Meu amor, porque você aperta tanto os joelhos? Porque você não abre as pernas? Vou te dar a última chance: é só você se mexer um pouquinho e nós podemos começar tudo de novo. Faz qualquer coisa, pelo menos um sinal de desejo, meu amor. Se você me responder eu te ponho num quadro de moldura de ouro e penduro em cima da minha cama. Você ainda não percebeu que a sua castidade é a causa da minha fraqueza? O último beijo na sua carne... Nos seios de menina... Na curva doce dos seus joelhos... Ah! Joelhos cruéis. É por isso que eu te mato, meu amor. É por isso... Adeus... (a gravura cai na privada. ele fecha a tampa)


Frank Wedekind – 1864 – 1916

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