terça-feira, 26 de outubro de 2010

TEATRO DAS SOMBRAS

“O circo acabou. As personagens não buscam o divertimento, o riso ou a alegria. Elas buscam quase desesperadamente, através do consumo, o confronto. Não há motivos para rir. O riso é apenas um espasmo. É preciso acreditar em uma forma de salvação.

Deus não está morto, nunca nasceu.

O palhaço perdeu seu emprego. Nós estamos perdendo os nossos. É obrigação do palhaço receber nossa arrogância. O palhaço não é engraçado. Cabe ao palhaço engolir nossa fúria. Daremos uma festa para um palhaço que não foi convidado. Já não nos importa a felicidade, importa apenas parecermos felizes.

Dividimos o mesmo espaço. Estamos no mesmo barco, que sabidamente afunda. Só nos resta uma poltrona para que possamos, de forma conotável, aguardar que as águas nos libertem. Não para uma nova ou melhor existência mas, para vida nenhuma. O palhaço enfia a cabeça no balde e a mantém submersa por cinco minutos. A água não mais purifica, apenas abafa o mundo. Às personagens restam apenas lembranças. Vagas, imprecisas, que não se compartilham, dividem o mesmo espaço no palco mas não no mesmo tempo.”

Lourenço Mutarelli



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